terça-feira, 11 de maio de 2010

Clube de Campina defende o forró tradicional


Campina Grande sempre se destacou nos festejos juninos. No início, ela era uma festa essencialmente cultural; os moradores da cidade reuniam suas famílias e amigos em volta da fogueira, com comidas de milho, quadrilhas e muito forró. Mas foi a partir do ano 1983 que surgiu o evento “Maior São João do mundo” realizado no centro da cidade. Em 1986 a prefeitura construiu o Parque do Povo para sediar o evento. A partir daí, a festa deixou de ser apenas cultural para tornar-se também um atrativo comercial e turístico.


O São João de Campina Grande passou a ser conhecido e respeitado por todo o país. É claro que essa mudança trouxe conseqüências para a cultura popular da festa. Os festejos em sítios e nas casas diminuíram gradativamente, graças à centralização no parque do povo. Com o tempo a festa foi se adaptando aos novos ritmos lançados na mídia, que visam obter lucro. E os tradicionais trios com seu “forró pé-de-serra”, que acompanharam os festejos juninos desde seu surgimento na região Nordeste, começaram a perder espaço para ritmos “da moda” que não necessariamente seguem a linha que, até então, era a marca da festa. Como exemplo, temos o famoso “forró estilizado”.


São muitos os amantes do forró que não aceitam essa mudança e tentam manter viva a tradição. Foi nesse contexto que encontramos a Associação Artístico-Cultural Clube do Forró. Conversamos com o cantor e compositor Roberto Moraes, que é o atual presidente e também o idealizador do Clube. Segundo ele, o clube surgiu de um grupo de músicos e admiradores do forró pé-de-serra que tinham o interesse de preservar a música regional, que consideram a identidade do povo nordestino e, principalmente, campinense. O Clube foi lançado em 17 de novembro de 2009, com um evento na Praça da Bandeira onde se apresentaram cantores como Os três do nordeste, Sussa de Monteiro e Biliu de Campina, artistas da terra que seguem o forró tradicional inspirados nos grandes cantores como Luiz Gonzaga, Marinês e Jackson do Pandeiro, entretanto, o grupo veio se estruturando dois anos antes do seu lançamento. Este Clube funciona durante todo o ano, realizando eventos e promovendo shows com artistas da terra, visando difundir o que eles chamam de “forró autêntico” não apenas durante o mês de junho, mas em todas as épocas do ano. Confira a entrevista com Roberto Moraes sobre o Clube e o mais recente evento organizado por este:



Repórter: Durante o evento “Maior São João do Mundo”, muitas vezes os trios de forró tradicionais são substituídos por cantores com ritmos diferenciados, como é o caso do forró estilizado, que acabam por vezes ofuscando a tradição nordestina que é o forró pé-de-serra. Podemos considerar o Clube do Forró uma resistência a essa substituição?


Roberto Moraes: Em 2004 eu fui a São Paulo fazer um São João fora de época e comecei a notar que o pessoal com a música sertaneja e com a música eletrônica não conseguia superar o pessoal do forró pé-de-serra que estava presente. Eles se destacavam. As pessoas interagiam mais com a gente e eu voltei impressionado com isso. Só que desde 2002 existe um movimento chamado ‘Forro pé-de-serra’ que está vindo do Sul para o Nordeste e, chegando a Campina Grande, eu pensei em fazer alguma coisa ligada a esse forró, o nosso forró tradicional. Juntei algumas pessoas, fizemos o estatuto, registramos, e estamos na estrada nos reunindo na casa dos integrantes da diretoria, como Sussa de Monteiro, Ednaldo Feitoza, Eugênio Feitoza, Josélio, Os três do Nordeste, que, por sinal, são os nossos maiores incentivadores. Enfim, conseguimos construir esse clube do forró que já está na estrada há 2 anos. Referente à sua pergunta da forma de resistência, sim, estamos fazendo isso como forma de resistência porque, até então, a nossa música é muito forte, ela atravessou várias fases e continua aí e os jovens continuam se aliando ao nosso ritmo, como nesse movimento que vem do Sul para o Nordeste. E nós estamos assegurando a continuidade da nossa tradição que é o forró.


Repórter: O grupo foi lançado em novembro de 2009 e desde então vocês constituíram uma sede? Os eventos são fixos?


Roberto Moraes: Não. O clube foi lançado, e apenas lançado, no dia 17 de novembro do ano passado. Antes disso a diretoria já existia e ele já estava registrado. E desde a fundação, dois anos atrás, nós temos reuniões itinerantes e continuamos assim. Agora mesmo recebemos o convite para preparar a grade do São João 2010 do clube dos Caçadores. Mas o nosso projeto, é claro, é ter nossa sede, como qualquer outro clube.


Repórter: E qual é a maior dificuldade enfrentada por vocês?


Roberto Moraes: A maior dificuldade é conseguir juntar esse povo que gosta da autêntica música nordestina. Não que não tenha mais, tem sim. Mas as pessoas se acomodaram, elas vão para o Parque do Povo procurando forró e chegando lá encontram bandas de brega. Mas tem algo que eu sempre digo: cada artista tem sua identidade, sua digital. Então, a gente procura fazer o nosso trabalho. E o grande desafio é ir à luta, continuar de pouco a pouco. De passo a passo.


Repórter: E sobre os eventos do Clube? Fale um pouco sobre este Festival que vocês estão anunciando.


Roberto Moraes: Bem, é o Primeiro festival regional de Trios de forró. Este festival não é voltado para as músicas e sim para os Trios. Cada um inscreve três musicas: um xote, uma marcha e um forró. Essas músicas serão analisadas por uma comissão julgadora que observará três pontos: harmonia, conjunto e intérprete. As músicas podem ser de Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro etc. O que vai contar no julgamento são os Trios. Criamos este festival como uma forma de valorizar os nossos Trios, que não estão recebendo a atenção merecida, estamos tentando organizá-los, ensiná-los. E o clube do forró vai agenciar esse pessoal.


Repórter: E para quem gosta de forró, mas não é musico, pode comparecer para prestigiar esse festival?


Roberto Moraes: Tranquilamente. Para ser sócio do Clube do Forró não é obrigado ser músico. Pode ser simpatizante, admirador. Eles podem ter sua carteirinha para os eventos, e o festival é aberto para todo mundo mesmo.


Repórter: Como as pessoas podem ter acesso ao clube? É necessário se associar?


Roberto Moraes: Bem, ser sócio é bom por que você recebe a carteira, a camisa e terá acesso as promoções que irão acontecer futuramente, se Deus quiser! Mas não é obrigatório, todos podem participar dos eventos à vontade. Temos agora uma parceria com a ACI (Associação Campinense de Imprensa) e, no futuro, também teremos o lado social do Clube.


Repórter: E para entrar em contato com o grupo, tem algum telefone, email ou página na internet?


Roberto Moraes: Estamos com o email clubedoforro2009@gmail.com, o telefone é o 8610-9486 e estamos construindo agora um site, onde funcionará rádio e TV, e tocará forró 24 horas.

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